O que esperar da velhice?

O que é ser velho? Quando começa a velhice? Qual o marcador biológico que mostra que a pessoa agora é “velha”?

Diferente da puberdade, que possui alterações hormonais acentuadas, na velhice não temos um marcador absoluto que traça um limite repentino entre ser moço e ser velho. 

Vamos entender, inicialmente, que envelhecimento é um acontecimento natural que se inicia com o nascimento e caracteriza-se por ser um processo progressivo pelo qual todo ser vivo tem de passar. A velhice, por sua vez, é a última etapa da vida, após a infância, a juventude e a idade adulta, podendo ser uma longa fase, 30 anos ou mais, maior que a infância e juventude juntas.
 

Então, a pergunta: Quando ficamos “velhos”? 

Primeiro, precisamos entender que existe a idade cronológica e a biológica. Pela cronológica, a lei brasileira diz que a pessoa tem uma série de direitos e é considerada idosa após os 60 anos. A idade biológica, por sua vez, é própria da vivência de cada um. Indivíduos de 40 anos podem se considerar “velhos” e cansados, enquanto outros, com 70 anos ou mais, podem se sentir jovens e cheios de saúde e amor pela vida. 

Então, é muito difícil traçarmos um limite correto entre o período adulto e a velhice. O certo é que ninguém gosta de ser chamado de “velho”, pois dá uma ideia de algo descartável e sem valor, podendo ser ofensivo para alguns. 

A velhice é um tema a ser discutido, entendido e valorizado. Enquanto alguns países da Europa foram “envelhecendo” ao longo de aproximadamente 150 anos e se preparando para isso, o Brasil envelheceu muito rapidamente, em menos de 40 anos, sem estar devidamente preparado para essa massa enorme de pessoas que aumenta dia após dia. 

Marcel Proust, escritor francês, dizia que de todas as realidades da vida, a mais abstrata é a velhice, porque o jovem não se imagina envelhecido e com os achaques da velhice, idealizando que sua vida será sempre como no esplendor dos 20 a 30 anos. Ledo engano. Ela virá. E se na juventude ou no período adulto não houver uma preparação física, psicológica, intelectual e financeira, a realidade pode ser nefasta anos depois. 

Mas, ao chegar nessa fase, o que podemos esperar da velhice? Isso vai depender das escolhas de cada um. Pode ser de uma vivência trevosa, repleta de mágoas, ressentimentos, solidão e sem estar preparado para essa etapa da vida. 

Entende-se que, natural e inevitavelmente, a velhice é uma fase de perdas: de familiares e amigos, financeiras, sociais e outras mais. Também pode ser uma fase de arrependimentos de, por exemplo, ter trabalhado muito, não ter aproveitado mais a vida, de ter feito mais para os outros do que para si próprio, não ter se divertido e viajado mais. 

No entanto, é possível que seja uma fase iluminada, de compreensão, de aceitação, de sabedoria com os aprendizados ao longo do caminho, de desfrutar as coisas boas da vida, e, em especial, de ter o sentimento de missão cumprida. 

Tanto a fase iluminada como a trevosa dependerão da maneira com a qual se encara e se prepara para este período da existência. 

A receita para se ter uma velhice iluminada requer alguns cuidados: fazer atividades físicas diárias, não fumar, manter a mente ativa, não se abandonar e se isolar, sair da zona de conforto e integrar-se em atividades filantrópicas, pois “quem é solidário, não é solitário”. É importante também ter um meio ambiente socioeconômico e familiar favoráveis, nutrição adequada, ter planos de vida após a aposentadoria, ser otimista e resiliente, ser grato a tudo que recebeu, saber perdoar, cultivar a generosidade e, acima de tudo, ter um propósito de vida. 

Além disso, é fundamental ressaltar que com o envelhecimento aprimoram-se as qualidades e acentuam-se os defeitos. Por isso, deve-se optar por qualidade de vida e dignidade na velhice, cultivando sempre os bons hábitos, vivendo com paz e saúde junto aos seus.Dr. Luiz Antonio S. Sá – docente da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR), especialista em Clínica Médica, Geriatria e Gerontologia.

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