O ator Chris Hemsworth (“Thor”) realmente terá Demência da Doença de Alzheimer? Chris Hemsworth descobre propensão genética

Editorial da Revista Endocrinologia e Diabetes da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná. Artigo original em inglês.

O ator Chris Hemsworth (“Thor”) realmente terá Demência da Doença de Alzheimer? Chris Hemsworth descobre propensão genética Luiz Antonio da Silva Sá Especialista em Clínica Médica, Geriatria e Gerontologia Docente da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR). Quando o ator australiano, Chris Hemsworth, de 39 anos, mais conhecido nos filmes pelo papel de “Thor”, anunciou em dezembro de 2022, uma pausa em sua carreira, o mundo ficou perplexo e estarrecido, querendo saber o motivo. O motivo, segundo ele, foi ter descoberto ser portador de duas cópias do gene ApoE4, uma de sua mãe e outra de seu pai, que o torna de oito a dez vezes mais propenso a desenvolver a doença de Alzheimer, do que em pessoas sem as duas cópias do gene. O ator destacou que não foi diagnosticado com Alzheimer, mas foi alertado sobre sua propensão genética, decidindo, então, parar com as filmagens e dedicar-se mais a sua família e às medidas preventivas contra esta terrível e incurável doença. Este caso vem à tona para reacender a discussão sobre como prevenir e o que fazer diante desta nefasta doença, que tanto mal causa ao seu portador e, também, aos seus familiares. Com certeza sua preocupação é em saber que há no mundo um demenciado a cada três segundos e que este número quase dobra a cada 20 anos, sendo esta doença degenerativa, progressiva, com déficits cognitivos acentuados, alterações da personalidade, e que interfere sensivelmente com as atividades pessoais, sociais e de trabalho, tornando o paciente, em fase mais avançada, totalmente dependente de cuidados 24 horas por dia. Sabemos que há vários tipos de demência sendo a doença de Alzheimer o tipo mais prevalente, em mais de 50%, de todas elas. Outros tipos comuns são: Vascular, Fronto temporal, por corpúsculos de Lewy, da doença de Parkinson, em porcentagens menores, mas não menos maléficas e com sintomas parecidos. A ciência pesquisa incessantemente algum medicamento ou vacina que possa curar ou prevenir esta doença malévola e infelizmente, ainda não conseguiu, após muitas tentativas frustrantes e dispendiosas. O que temos até o momento é um grupo pequeno de medicamentos, que funcionam sintomaticamente, podendo até prolongar um tempo maior de lucidez, porém não levando à cura. Então o que podemos, realmente e comprovadamente, fazer de mais importante é evitar os fatores de risco e seguir as medidas preventivas. Podemos listar os fatores de risco mais importantes que são: a) Não modificáveis: idade e origem familiar b) Modificáveis: diabetes, hipertensão, obesidade, inatividade física, tabagismo, depressão, baixa escolaridade, perdas auditivas (surdez), consumo excessivo de álcool, traumatismo craniano, poluição ambiental, isolamento social e familiar. As medidas preventivas mais importantes são: exercícios físicos, reserva cognitiva (neuroplasticidade), educação, atividade mental constante com novos aprendizados, interação social, evitar o isolamento e nutrição adequada. Mas a pergunta que não quer calar é: existe algum exame que possa detectar precocemente, com certeza, se a pessoa vai ter a Demência da Doença de Alzheimer? Embora esta doença possa começar décadas antes de suas manifestações iniciais, com a deposição gradual de uma proteína chamada beta amiloide que passa a formar placas no cérebro e destruindo sinapses e neurônios gradativamente, a resposta é que, infelizmente, não existe ainda um exame capaz de mostrar com precisão absoluta que a pessoa terá este tipo de demência. Sabendo que o diagnóstico é essencialmente clínico, pode-se fazer, inicialmente, uma série de exames de sangue considerados de rotina, como glicemia, hemograma, vitamina B12, colesterol, provas de função renal, hepática e de tireoide, que servem também para afastar uma das possíveis causas de demência potencialmente reversível. Numa pesquisa mais aprofundada, temos atualmente uma série de exames, que podem mostrar indícios possíveis desta doença, conhecidos como biomarcadores, tais como: 1 Biomarcadores no LCR (líquido cefalorraquidiano), para detecção das proteínas Beta amilóide, Tau total e Fosfo Tau (responsáveis em grande parte por esta doença). 2 Biomarcadores de imagem, como a RNM (Ressonância Magnética), a mais comum e outros realizados em centros maiores que são: SPECT, FDG PET, PIB PET e alguns mais que gradualmente estão sendo implantados no Brasil. 3 Biomarcadores genéticos, sendo os principais: PSEN1, PSEN2, PPA e a Apolipoproteína (APO)E e seus alelos (E2, E3, E4). Apesar do enorme potencial para uso de biomarcadores na prática clínica, isso ainda não é uma realidade. Nenhum destes exames é conclusivo e definitivo para demência de Alzheimer, só devendo ser usados em pesquisas, principalmente por falta de padronização para dosagens liquóricas, tendo ainda resultados falsos positivos e falsos negativos. Entretanto, no caso desses exames acima mostrarem algum grau de positividade, como fica a cabeça do paciente, sabendo que poderá ter esta doença um dia? Os estudos mostram que esses tipos de testes geram mais preocupação e ansiedade que benefícios, deixando a pessoa com qualquer lapso de memória, achando que já está desenvolvendo esta fatídica doença, podendo desenvolver quadros depressivos. No caso de Hemsworth, o fato de ser portador APO E4, pode aumentar o risco da doença, mas não é um diagnóstico definitivo e sua preocupação certamente é pelo fato de que, quem herdou apenas uma das cópias com a variante E4 tem um risco aumentado em duas ou três vezes de desenvolver doença de Alzheimer, enquanto em seu caso, pessoas que herdaram as duas cópias com a variante E4, o risco é 10 vezes maior em relação a população sem este gene. A incerteza da mutação genética APOE4 também se dá por duas situações importantes. A primeira é que mais ou menos 50% das pessoas que sofrem de Alzheimer não têm a presença desse gene. Portanto, apesar de ele aumentar o risco, não é condição para o desenvolvimento da doença. A segunda situação é que esse alelo também é encontrado em torno de 10% a 15% da população. A grande maioria das pessoas que têm o alelo, seja um, sejam dois, não vão desenvolver a doença. Se a decisão de Chris Hemsworth foi correta de abandonar, no auge, sua gloriosa carreira, é uma questão de foro íntimo e muito particular dele, porém poderia levar em conta a epigenética e que o fato de estar ativo, trabalhando, decorando textos e interpretando já é um grande fator protetivo contra esta demência. Por outro lado, o que ele está praticando e divulgando está muito correto, que é afastar os fatores de risco e priorizar sempre as medidas preventivas acima citadas, que são o que temos confirmado, atualmente, para tentar evitar esta doença.

FIM

Referências:

– World Health Organization (WHO). (20 de março, 2021) Dementia: a public health priority. W.H.O – Krysinska K, Sachdev PS, Breitner J, Kivipelto M, Kukull W, Brodaty H. Dementia registries around the globe and their applications: A systematic review. Alzheimer’s Dement 2017;13:1031-47. – Ministério da Saúde. Alzheimer: o que é, causas, sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Disponível em: https://saude.gov.br/saude-de-a-z/alzheimer. – Alzheimer’s Association – Brasil; Alzheimer Disease International;- Associação Brasileira de Alzheimer; – Verdullas, R. A.; Ferreira, M.; Nogueira, V. O. Dificuldades enfrentadas pelo cuidador familiar mediante o paciente com mal de Alzheimer em fase avançada. Revista Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 50, n. 8, p. 109-113, maio 2011. – Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: doença de Alzheimer. 2014. – Pinto, Ânderson de Vasconcelos et al. Tratamento farmacológico da doença de Alzheimer em idosos. Congresso Internacional de Envelhecimento Humano, 2017. Disponível em: < http://www.editorarealize. com.br/revistas/cieh/ trabalhos/ TRABA LHO_EV075_MD2_SA3_ID1221_11092017200451. – Alzheimer’s Association (AA). (2020). 2020 Alzheimer’s disease facts and figures. Alzheimer’s & Dementia, 16, 391-460. – J.L. Molinuevo et al. / Alzheimer’s & Dementia – (2014) 1-10 The clinical use of cerebrospinal fluid biomarker testing for Alzheimer’s disease diagnosis: A consensus paper from the Alzheimer’s Biomarkers Standardization Initiative. – The cerebrospinal fluid “Alzheimer profile”: Easily said, but what does it mean? DUITS F.H DOI: https://doi.org/10.1016/j.jalz.2013.12.023 . Mattsson N, Zetterberg H, Hansson O, Andreasen N, Parnetti L, Jonsson M et al. CSF biomarkers and incipient Alzheimer disease in patients with mild cognitive impairment. JAMA. 2009;302(4):385-93. – KANG, J.-H. et al. The Alzheimer’s Disease Neuroimaging Initiative 2 Biomarker Core: A review of progress and plans. Alzheimer’s & Dementia, v. 11, n. 7, p. 772–791, jul. 2015. Disponível em: – FRIDMAN, C. et al. Alterações genéticas na doença de Alzheimer. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), v. 31, n. 1, p. 19–25, 2004. Disponível em: Sites: • www.alz.org/br/demencia-alzheimer-brasil.asp • abraz.org.br • Alzheimer’s Association • The Alzheimer’s Society • Institute of Neurological Disorders and Stroke Alzheimer’s Disease Information Page:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *